domingo, 13 de março de 2011

Um amor



Nuno Júdice




Escritor, poeta e ensaísta português, natural de Mexilhoeira Grande, Portimão. Estudou Filologia Românica na Universidade de Lisboa, vindo depois a ser professor do ensino secundário. Actualmente, é professor da Universidade Nova de Lisboa, onde se doutorou em 1989 com uma tese sobre Literatura Medieval.
Tem livros traduzidos em Espanha, Itália, Venezuela, Inglaterra e em França.




Algumas obras publicadas:


  • ϖ A Noção do Poema, 1972
  • ϖ A Partilha dos Mitos, 1982
  • ϖ Flores de Estufa, 1993
  • ϖ As Coisas Mais Simples, 2006


Um Amor

Aproximei-me de ti; e tu, pegando-me na mão,
puxaste-me para os teus olhos
transparentes como o fundo do mar para os afogados. Depois, na rua,
ainda apanhámos o crepúsculo.
As luzes acendiam-se nos autocarros; um ar
diferente inundava a cidade. Sentei-me
nos degraus do cais, em silêncio.
Lembro-me do som dos teus passos,
uma respiração apressada, ou um princípio de lágrimas,
e a tua figura luminosa atravessando a praça
até desaparecer. Ainda ali fiquei algum tempo, isto é,
o tempo suficiente para me aperceber de que, sem estares ali,
continuavas ao meu lado. E ainda hoje me acompanha
essa doente sensação que
me deixaste como amada
recordação.

Nuno Júdice, in "A Partilha dos Mitos"


Comentário

Este poema fala-nos sobre o amor, não um amor qualquer, mas um amor marcante e verdadeiro que deixa no sujeito poético a estranha sensação de que, apesar da ausência, a pessoa amada permanece bem vincada no seu coração e na sua vida. Partiu, mas deixou um rasto…uma amada recordação!

Amar é sentir que estamos sempre ao lado de quem gostamos, independentemente das circunstâncias da vida.



Cláudia Franco


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