quarta-feira, 30 de novembro de 2011

A árvore dos pássaros coloridos - Daniel Marques Ferreira


Escritor Daniel Marques Ferreira




Imagem Andreia Ribeiro


O senhor João e a senhora Rosa tinham já muita idade. Contudo, mantinham viva e firme a sua grande amizade, que nascera nos dias em que eram ainda crianças.

- Lembras-te, de quando vínhamos para aqui brincar? – perguntou o senhor João à velha amiga, numa tarde em que estavam ambos sentados debaixo daquela árvore, tão antiga que ninguém sabia ao certo os anos que ela tinha.

- Se me lembro! – suspirou a senhora Rosa. – E bem me recordo da tua mania, em subir ali acima, à cata de ninhos de pardais. Malandro, que tu eras!

Agora, que viviam sós – ambos tinham já perdido os seus esposos e os filhos haviam abalado para longe –, que os muitos anos vividos os deixara de cabelos brancos e de passos vagarosos, os dois idosos mantinham aquele hábito: desfiar lembranças sob a sombra generosa daquela árvore. Mal a primavera abria os braços ao tempo gostoso, era vê-los ali, como meninos de outrora a procurarem os seus brinquedos em baús antigos. Sim, chega a altura em que, as recordações são, tal qual brinquedos mágicos!

Certo dia – ou melhor: certa tarde, as suas doces conversas foram interrompidas pelo mau humor do senhor António, vizinho rabugento que vivia mesmo em frente da frondosa árvore.

- Tenho de mandar podá-la! As suas flores causam-me alergia – reclamou o homem, no jeito rezingão de quem tem raiva da vida.

- Podá-la!? – surpreendeu-se a senhora Rosa. – Você deve estar a brincar!

- Brincar coisa nenhuma! Quando vem a primavera, não paro de espirrar por causa das flores dessa árvore – continuou o senhor António.

- Vai tirar-nos esta deliciosa sombra? – perguntou o senhor João, que nem queria acreditar no que estava a ouvir.

- Se querem sombra, arranjem um chapéu – reclamou o mal-humorado, recolhendo de seguida a sua casa e batendo a porta com estrondo.

Os outros, para não desanimarem, comentaram que aquela reclamação, certamente não passava de um desabafo passageiro.

Porém, dias depois e para enorme e triste surpresa de ambos, quando chegaram ali, depararam com a árvore despida de folhas e de flores. Aquela sua velha amiga estava, agora, transformada num tronco choroso, segurando alguns galhos completamente desnudados. Era como se uma tempestade impiedosa tivesse passado por ali, e levado para longe, toda a sua verdura e todo o seu perfume.

- Como conseguiu o senhor António, que alguém fizesse isto à nossa árvore? – perguntou a senhora Rosa, num fio de voz.

- Ora, como conseguiu! Ele é amigo do presidente da junta, e consegue o que quer – respondeu o senhor João, muito ciente do que estava a dizer.

O mal já estava feito, e nada o podia remediar. Por isso, os dois amigos sentaram-se debaixo da árvore despida de folhagem e de flores, e, como ela, mergulharam numa profunda tristeza.

Após uns momentos de silêncio, numa voz tão lastimosa que teria comovido quem a escutasse, a senhora Rosa lamentou:

- Que triste está a nossa árvore! Assim, tão despida e solitária, via morrer de desgosto!

Na altura em que ela dizia isto, o vento, a passear por ali nesse momento, agarrou nestas palavras e levou-as nas suas asas. Depois, lá longe soltou as palavras, que esvoaçaram como pétalas de uma mensagem.

Por um acaso – ou talvez não –, naquele espaço esvoaçavam também um bando de lindos pássaros, muito coloridos. Tão bonitos eram, que, quem olhasse para eles, logo sentia o próprio olhar envolto numa onda de festa. Na verdade, eram a coisa mais linda de se ver. Contudo, ao contrário das pessoas demasiado bonitas que tantas vezes são muito vaidosas, estes pássaros tinham uma generosidade tão grande quanto a sua beleza. Assim, mal escutaram aquela mensagem, e depois de perguntarem ao vento onde vivia a triste e castigada árvore, decidiram em coro:

- Vamos viver nela, e enchê-la de cor e alegria!

Se bem o decidiram, melhor o fizeram!

Tão velozmente quanto as suas asas multicores o permitiam, cruzaram o céu, em busca da sua nova morada.

Quando lá chegaram, o senhor João e a senhora Rosa ainda comentavam o azar da árvore, que conheciam desde que eram crianças.

- Vai levar muito tempo, até que volte a ficar frondosa, verdejante e florida – lamentou homem.

- É! Já não será para os nossos dias! – concordou a amiga.

Nesse instante porém, o chilreio dos pássaros coloridos, o agitar festivo das suas asas lá em cima, sobre a árvore despida, fez com que os dois amigos erguessem a cabeça para o céu e contemplassem aquele milagre.

O velho tronco agitou-se com doçura e abriu os seus galhos como braços que recebem um amigo, pois sentiu que a vida estava de regresso para si.

Agora, os dois idosos podem já não ter sombra para desfrutar, contudo, a festa e a alegria daqueles pássaros coloridos, é quanto basta para os deixar felizes.

O senhor António?! Esse reclama pelo piar das aves, mas nem o presidente da junta consegue fazer nada. Podem agitar paus para enxotar os pássaros, mas eles regressam sempre, horas depois, para encherem de vida aquela árvore secular.


História de D.M.F., a partir de uma ilustração de Andreia Ribeiro

Escritor Daniel Marques Ferreira



Senhor Daniel,

Quando iniciámos a leitura das histórias do livro "O Leão comilão e outras histórias que aqui estão", gostei muito de uma. Agora, vou partilhar consigo a minha opinião.

Gostei imenso desta história porque é muito engraçada, pelo facto de o Ganso ser "tanso" e a menina (acho que é uma menina) o ter sentado à sua mesa, como se tratasse de uma pessoa. Recorreu a almofadas para que o seu amigo chegasse à mesa e pudesse alimentar-se, já que ali os outros habitantes da capoeira não lhe retiravam a comida, penicando-o.

A menina tentou que o Ganso aprendesse a usar os talheres, mas não conseguiu. Gostei de ver a ilustração do Ganso a comer esparguete sem usar os talheres.

O que mais apreciei foi o facto de a menina gostar muito do Ganso, apesar de ele não ser despachado como os outros. Esta história mostra que pode haver sentimentos bonitos, mesmo que haja limitações naqueles dequem se gosta!

Resta-me agradecer a sua visita ao nosso Agrupamento. Gostei de o conhecer pessoalmente.

Até à próxima!

Com os melhores cumprimentos,

Andreia Ribeiro

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terça-feira, 1 de novembro de 2011

A fantasia do Abel - Rosa Guedes

Escritora Rosa Guedes

Imagem Filipe Abel Gomes


Para uma festa tropical

Fui convidado

Mas o traje ainda não tinha encontrado

Falei com a minha mãe que me deu permissão

Mas logo me disse:

“Não tenho um tostão!”

Pensei, repensei

Queria muito uma novidade

Que mostrasse toda a minha vaidade!

Enquanto não vinha a imaginação

Peguei num lápis

Comecei a afiá-lo

Com muita calma, pois então!

Uma apara em saia rodada

na mesa poisou

e logo uma em leque se lhe juntou…

Triangulares, redondas, em cone ou

em quadrado…

Eram tantas as cores e formas que eu estava encantado!

Um boné de apara encarnado

Umas luvas negras de mago

papillon de lápis azulado

Nem pareciam aparas, mas sim um fato lindo de brocado!

A mãe adorou! Que bela fantasia!

Como eu me diverti no meu fato – aparas plissadas de magia.!!!

Rosa Guedes,

Junho de 2011