quarta-feira, 9 de maio de 2012

SASSAI E NIRUMBÉ - escritora Bernadete Costa





Sassai e Nirumbé eram muito amigos, bom, diremos até mais do que amigos, namoradinhos de fresco, acabadinhos de sair das mãos de artista de Raúl e David, meninos especiais e dotados para as artes. Sendo estes meninos especiais, também o eram porque possuíam poderes mágicos: Raúl encarnava a personagem do fantástico mago Merlim, e David vestia a roupagem do incrível Feiticeiro de Oz, ainda que a residirem no sonho da sua criatividade. Eles elaboraram um casalinho de máscaras muito diferente das restantes que, seguramente, haveriam de formigar pelas ruas da cidade de Viana do Castelo, no dia de carnaval, soalheiro, por certo.
Compete aqui esclarecer que Raúl e David, respectivamente, o mago Merlin e o feiticeiro de Oz nos seus sonhos, já cá se mencionou, fizeram nascer aquelas máscaras com muito amor. Um amor que abrasava o céu, beijava o vento… Lindo, não é?
Assim de imediato as máscaras foram batizadas: ela, Sassai,  e ele, Nirumbé.
Obviamente, como grandes mágicos que eram, as suas máscaras ganharam vida própria logo após o seu nascimento, não esquecendo, como já se aperceberam, a parte sentimental, amorosa… Nas mãos dos nossos amigos, diziam as máscaras uma para a outra, “agora que te encontrei não pretendo separar-me de ti”; saiba-se que as máscaras haviam rejeitado, veementemente, serem separadas como pretenderam os seus criadores. Uma por esta rua, outra por aquela…. Dirá quem aqui me lê, “o amor não é fácil para ninguém”, não sejamos pessimistas, pressagio eu.

Retomando o início da nossa história, um casal de máscaras, namoradinhos de fresco, acabara de sair das mãos talentosas de Raúl e David, heróis virtuais em seus sonhos de criatividade e imaginação.

O dia de carnaval despertara quente, por isso, propício à brincadeira e ao desfile pelas ruas da cidade, aliás, como o boletim meteorológico havia previsto e, ainda bem, desta feita, não se enganara. Diremos mais, um dia com cheiro intenso a sol!
No princípio, o casal de máscaras chocou um pouco o grupo das outras, porque todas bem aperaltadas com laços e fitas, bocas de cereja, cabelos de fogo frisados, etc, etc, etc…
Entretanto, o desfile começou. Sassai e Nirumbé riam-se a não poder mais, imaginem, com o medo que pregavam ao susto! E as pessoas, com olhares enviesados como se dissessem, “esquisitas máscaras, diferentes, nada bonitas…”
A certa altura do divertido dia, com aquela grande confusão carnavalesca, Sassai tomba da mão de David. Cai, rola um pouco pelo chão… e perde-se da vista do menino que grita: Sassai, Sassai!…
Nirumbé, por sua vez, amarra-se com firmeza à mão do seu criador, deixando deslizar um olhar triste e lacrimoso pela rua a fervilhar de multidão, nunca mais avistando Sassai.
O feiticeiro de Oz, como quem diz David, ainda pensa recorrer aos seus dotes de mago dos sonhos, mas ele está muito acordado no momento; mira Nirumbé que cabisbaixo deixa morrer o sorriso que se transforma num esgar de dor, uma cicatriz de tristeza a riscar o seu rosto de papelão às cores.
Por sua vez, Merlin, ou seja, Raúl, com uma tristeza de pai que perde o seu filho, acaricia as barbas e o bigode de Nirumbé numa tentativa de lhe fazer voltar o riso à boca bem escancarada, num esforço de o compensar da sua perda.
De repente, uma chuva oriunda dum céu polvilhado de nuvens irrompe das sombras negras como que solidárias com a mágoa daqueles dois.
Raúl fica muito quieto, e enquanto a roupa se encharca olha desalentado Nirumbé que se vai descolorindo, amolecendo, transformando-se em papa amorfa de cartão, papel e tinta.
Pelas pedras da rua, um rio de cor forma um charco de lágrimas, vermelhas.
Raúl e David observam as suas mãos vazias sentindo de novo o sol a querer brincar ao carnaval, e sussurram como mágicos que não são: Sassai Nirumbé…Sassai, Nirumbé…


escritora 
Bernardete Costa, 2012.

Sem comentários:

Enviar um comentário